quarta-feira, 13 de março de 2013

Viúva de Rodrigo Neto ainda não sabe o que fazer do futuro

A DOR DA PERDA



Beatriz de Oliveira: “Seja por qual motivo for, o que quer que ele tenha feito a quem quer que seja, não precisavam tirar a vida dele desse jeito”

Janete Araújo
REPÓRTER

IPATINGA – Na tarde desta terça-feira (12), a viúva do repórter policial Rodrigo Neto de Faria, 38 anos, assassinado com três tiros no início da madrugada da última sexta-feira (08), no bairro Canaã, se pronunciou pela primeira vez após o crime. Natural de Coronel Fabriciano, embora tenha ido ainda pequena morar em Caratinga, Lourdes Beatriz de Oliveira Faria, a ‘Bia’, de 33 anos, aceitou receber a reportagem do jornal VALE DO AÇO na residência da família, no bairro Cidade Nobre. Mesmo ainda muito abalada, ela falo durante cerca de 40 minutos. Entre declarações e choros, comentou sobre a morte do marido, sua relação com a família, e admitiu: por enquanto ainda não sabe o que vai fazer de sua vida depois do trágico acontecimento. 

Desde o enterro do jornalista, na manhã do último sábado (09), ‘Bia’ e o filho Arthur, de seis anos, foram para a casa dos familiares em Caratinga. Mas ela e o garoto tiveram que retornar na manhã desta terça. Vieram acompanhados da mãe de ‘Bia’, a dona de casa Maria Rosa, e de seu irmão, José Carlos. Os dois estão fazendo companhia à viúva e o menino em sua casa, alugada exatamente no dia anterior à morte de Rodrigo.
‘Bia’ explicou que está de novo em Ipatinga para resolver alguns quesitos, vários trâmites burocráticos que envolvem o caso, como obter a certidão de óbito, já que o corpo foi sepultado sem o documento; tentar conseguir a carteira de trabalho do repórter; liberar o carro (o Corola em que Rodrigo foi executado junto à porta do motorista, quando se preparava para voltar para a casa, após ficar bebendo e conversando com um amigo numa barraca de churrasquinho), que ainda está sob os cuidados da polícia. O automóvel estaria sendo periciado em busca de pistas, sendo desmontadas várias partes de seu interior. Na tomada de todas estas providências, quem muito tem ajudado é o irmão policial de Rodrigo, Emerson Rodrigues Faria, cabo da PM.

A notícia
Beatriz de Oliveira Faria conta que recebeu a notícia do assassinato pelo 190, no meio da noite, a partir de um telefonema feito por ela. Mas lembra que antes, por volta de 1h20 da madrugada, o ex-coordenador da Defesa Civil de Ipatinga e amigo da família, Noé Pedro, ligou para  ela querendo saber se Rodrigo estava em casa, o que já gerou certa apreensão: “Eu disse que não. Entretanto, pela voz dele, imaginei que algo havia acontecido. E comecei a ficar nervosa e preocupada. Me levantei, me vesti”, relata.
Em seguida, ‘Bia’ conta que foi até à casa de uma vizinha e conversou com ela sobre o assunto. “Meia hora depois – ela continua – liguei para a esposa do Noé, a Cremilda. Percebi, pelo tom de voz dela, que ela sabia de alguma coisa e não queria me dizer. Liguei então para o 190 e perguntei se tinha alguma ocorrência na Selim José de Salles ou proximidades. O policial que me atendeu perguntou quem eu era. Falei que era a esposa do Rodrigo Neto e ele disse que ele tinha sido baleado. Entrei em desespero”, lembra ‘Bia’, que diz ainda que o PM pediu que ela ficasse calma e fornecesse o endereço para que pudesse enviar uma viatura para lhe dar assistência.

O desabafo
A viúva revelou à reportagem do jornal VALE DO AÇO que já prestou depoimento para a Polícia Civil. Contou que não sabia se ele estava sofrendo ameaças: “Ele era contido e reservado. Não falava dos problemas do trabalho em casa, não relatava nada. Dizia sempre que isso era para me preservar, assim eu não sabia nada de sua vida profissional”, explica Beatriz.
“Agora – comenta a mulher – fica o sentimento de revolta pela forma covarde e traiçoeira como ele foi assassinato. Seja por qual motivo for, o quer que ele tenha feito a quem quer que seja, não precisavam tirar a vida dele desse jeito. Foi muito brutal e estavam esperando a hora oportuna para fazer isso”, observa a viúva de Rodrigo Neto.

Um pai e marido dedicado

‘Bia’ lembra que Rodrigo Neto tinha pouco tempo para ficar com ela e com o filho Arthur, situação que já sabia ser mais comum agora, tendo em vista que passou a ter dois empregos, na Rádio Vanguarda e também no jornal VALE DO AÇO. Mas conta que ele gostava de aproveitar bem os raros momentos que tinham juntos: “Ele gostava muito de ficar deitado no sofá da sala junto com o Arthur, assistindo desenho animado. Isso quando os dois não estavam brincando de fazer cócegas um no outro ou apostando corrida pela casa. Eu morria de medo de um deles se machucar”, recorda Beatriz, para em seguida acrescentar: “Nossa vida pessoal era muito reservada. Ele me preservava e dizia para eu não dizer para as pessoas que ele era meu marido. Mas ele era muito carinhoso. Às vezes íamos a alguma pizzaria e ficávamos lá dentro. Quando eu questionava, ele dizia que era para a minha segurança, e ainda ressaltava: - ‘Bia’, é bom evitar”.
A viúva descreve ainda que Rodrigo “era dedicado, mas às vezes chegava calado, parecendo estar nervoso e pedia para eu não fazer perguntas, pois tinha ocorrido umas coisas envolvendo o trabalho. Nunca trouxe problemas para casa. Não dava má resposta, não ficava nervoso nem comigo ou com o Arthur e mantinha o bom humor”, assegura a viúva de Rodrigo Neto.
Embora tenha estado com a família no enterro do pai, o filho único de Rodrigo Neto, que se parece muito com ele, provavelmente ainda não se deu conta da extensão da perda ou do quanto ela pode representar para sua vida. Alegre e sorridente, ele mesmo foi até o portão receber a equipe de reportagem. Dentro de casa, deitado no sofá, assistia desenho animado da Turma da Mônica e mostrava DVD dos Smurfs que seu pai havia comprado. Arthur alegrou-se ainda mais ao receber alguns pirulitos e foi levado pelo tio para jogar bola do lado de fora, enquanto sua mãe falava ao jornal.





Imprensa se une para criação
do “Comitê Rodrigo Neto”

IPATINGA – Dezenas de profissionais de Comunicação que atuam na Região Metropolitana do Vale do Aço se reuniram nesta terça-feira (12), na Câmara Municipal de Ipatinga, para criar o “Comitê Rodrigo Neto” - entidade de classe que se propõe a cobrar celeridade na apuração do crime brutal que vitimou o jornalista na madrugada de sexta-feira (8). Além de não deixar o caso cair no esquecimento, o intuito é pressionar as autoridades também quanto a crimes que foram investigados por Rodrigo Neto em vida, no quadro que ficou conhecido como “O que o tempo não apagou”, na emissora Vanguarda AM. Poucos dias antes de sua morte, Rodrigo também dera início a um novo estágio de apurações no jornal “VALE DO AÇO”.
Aqueles que imaginaram terem calado o Rodrigo Neto vão perceber que, pelo contrário, fizeram nascer dentro de cada um de nós mais um Rodrigo. Pois agora é que, demonstrando unidade, a imprensa vai investigar a fundo, de forma impessoal, mas como classe”, apontou o assessor da Câmara de Ipatinga, Breno Brandão.
Já a repórter policial Gizelle Ferreira, que atua no jornal “Diário Popular”, ressaltou a importância de que a imprensa como um todo esteja engajada na elucidação de episódios em que os jornalistas desta editoria, por acompanharem de perto, acabam ficando mais expostos. “Claro que diante de uma brutalidade como essa, nós ficamos com medo. Não consigo acreditar ainda no que aconteceu, parece não ser real. Mas somos nós, repórteres policiais, que mostramos a cara todos os dias acompanhando o combate à violência. É importante, sim, que sejamos protegidos, estando na linha de frente”, expôs.

INICIATIVAS
Grande parte dos profissionais de Comunicação adotou, desde esta segunda, uma fita preta no pulso que, mais do que sinal de luto, cobra rápida apuração do crime. Uma camiseta está sendo confeccionada para a Missa de 7º Dia, que será celebrada pelo padre Chico Guerra nesta quinta-feira (14), às 19h30, na Igreja Católica do bairro Veneza. Também foi criada uma identidade visual padrão aludindo ao crime, que estampará as capas de jornais, revistas e demais impressos, sites e portais de internet, além de vinhetas para mídia eletrônica: rádio e TV.
O vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, Alessandro Carvalho, acompanhou as discussões e prometeu empenho da entidade. “Vamos levar às autoridades em Belo Horizonte a nossa indignação, além de pautar os principais veículos da capital para que também cobrem a investigação do episódio”, concluiu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário