sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A GALINHA E O PAVÃO



“Faça a escolha: você é galinha ou pavão?”
Observando as pessoas que me rodeiam tive plena certeza de que se fossemos divididos em animais e estes fossem aves, haveriam apenas duas espécimes: Galinhas e pavões. Por quê? Simples. Vamos começar pelo pavão, lindo majestoso com suas penas coloridas, sua altivez que quase chega ás raias da arrogância e, quando abre sua cauda parece dizer: - Quem manda aqui no reino animal sou eu e pronto!
Já a galinha em sua simplicidade e falta de interesse egoísta, pensando sempre no coletivo, convive em comunidades chamadas de galinheiro, põe ovos que servem para alimentar a nós seres humanos (sejam cozidos, fritos, assados ou em pães, bolos, massas e quitandas); ou ainda fica pacientemente por 23 dias chocando pintinhos que no futuro irão se tornar frangos para obrigatoriamente comporem nossa dieta de proteínas num composto de arroz, feijão e salada.
E o pavão? Apenas enfeita jardins de algumas poucas pessoas economicamente abastadas, denominadas de classe A. E, um pavão quando muito, apenas aceita outro junto dele desde que seja uma fêmea para ser seu par.
A galinha morre já muito velha depois de não mais poder cumprir á risca sua função de conceder nossa fonte de alimento (ovos e frangos) e, ainda assim mesmo em seu último ato de heroísmo ela se torna num delicioso guisado. Sendo que durante toda sua vida se satisfez com o milho ou ração que eram jogados no cocho do galinheiro para toda a coletividade onde cada um dos galináceos defende como pode a sua porção.
O pavão quando morre serve para que? Bom, após enfeitar os ricos jardins compondo a paisagem e suas penas já não mais o mesmo brilho e seu corpo fica sem o vigor de outrora, se a sua carne ainda for tenra, seu corpo sem vida pode vir a se tornar um assado; suas penas coloridíssimas passam para as mãos de carnavalescos que criam adornos de cabeça que são logo descartados quando chega à quarta-feira de cinzas, ou ainda algum artesão cria algum badulaque que termina quase do mesmo jeito tão logo ficam empoeirados. E é assim o fim do pavão.
Crianças brincam com galinhas e seus pintinhos. Quem diz ter um pavão dentro de casa como bicho domesticou ou de estimação?
Galinhas deixam sua descendência em novas galinhas e galos que ela mesma chocou (e se for uma galinha d’Angola então ela concede ao ser humano os ovos que lhes são necessários e esconde os outros em ninhos secretos para choca-los bem escondidinha)...
Você já viu alguém ter interesse em dar continuidade a um pavão ou chorar copiosamente sua morte, como fazem as crianças que criam seus animaizinhos (neste caso os pintinhos que serão franguinhos) desde que são bem pequeninos?
No máximo esse nosso pavão será empalhado e voltará a sua função original: chamar atenção enquanto enfeite.
Galinha não tem classe social, qualquer pessoa pode ter uma; desde um pequeno criatório no fundo de um quintal de favela, passando a um galinheiro de médio porte num sítio qualquer até chegarmos as grandes granjas, que rendem financeiramente muito dinheiro para quem as administra bem. E a carne de seus filhotes (os frangos) e ovos são apreciados em todas as mesas e preparados assim que se tem acesso ao produto, com os devidos requintes cabíveis a cada bolso e gosto.
E pavões com sua alimentação especial, balanceada são beldades que apenas pessoas com bons dotes financeiros ou zoológicos terão o prazer de observa-los e conviver em sua presença.
Ah! Mas galinhas também têm belas cores, basta sabermos observar bem as matizes de suas penas. Ou você acha uma galinha’Angola um bicho feio? Então por que tem uma réplica de barro em sua cozinha, pano de prato, na armação de guardar ovos....?
Assim são os seres humanos: uns são pavões e nascem para brilhar, enfeitar, serem altivos e muito exigentes. E só.
Outros são galinhas que vivem em comunidade, equipes e grupos, são produtivos e para enxergar seu charme e carisma é necessária uma observação nítida e minuciosa.
E as galinhas quase nunca decepcionam, mas ás vezes são exploradas em excesso por falarem tão poucas vezes a palavra NÃO!
Nasceram para servir e fazer o que o pavão é incapaz de realizar.
Janete Araújo- jornalista MG09591-JP/DRTMG