terça-feira, 12 de março de 2013

Delegado de BH assume apuração de assassinato de repórter policial


TODA A IMPRENSA começou a trabalhar nesta segunda-feira com uma pulseira preta, simbolizando a unidade pela elucidação do caso

EXECUÇÃO NO CANAÃ


Janete Araújo
REPÓRTER
Rodrigo Neto enviou e-mails ao Ministério Público em 29 de setembro de 2011 e 7 de fevereiro de 2012, alegando estar recebendo ameaças de morte

IPATINGA - As investigações sobre a morte do repórter policial Rodrigo Neto de Faria, 38 anos, executado com três tiros por dois motoqueiros, na madrugada da última sexta-feira (08), no bairro Canaã, foram assumidas pelo delegado Emerson Morais, titular da Delegacia de Homicídios de Belo Horizonte. O policial chegou à cidade no último sábado (08), chefiando uma equipe formada por três investigadores, também da capital mineira. Nesta segunda-feira (11), toda a imprensa do Vale do Aço começou a trabalhar usando uma pulseira preta, também usada por profissionais de assessorias e mesmo aqueles que no momento não estão engajados em nenhum órgão. Caso não haja uma resposta quanto ao autor do crime, até o próximo final de semana, uma manifestação está sendo organizada para a sua missa de 7º dia, com camisas de protesto elaboradas para a ocasião.

O delegado Ricardo Cesário, que até então estava à frente do caso, já passou para o colega belo-horizontino o inquérito da morte de Rodrigo Neto. Algumas pessoas começaram a ser ouvidas, várias delas profissionais da imprensa. Todo o processo vem correndo em segredo de justiça. O resultado das investigações deverá ser reportado a autoridades na capital.
Na tarde desta segunda-feira (11), a reportagem do jornal VALE DO AÇO tentou contato com a Superintendência Judiciária da Polícia Civil, em BH, mas a repartição não quis se pronunciar sobre o assunto, afirmando apenas que o caso da morte do jornalista foi repassado para a Delegacia de Homicídios de BH e que nenhuma informação será repassada, pois o caso corre em sigilo.

Denúncias de ameaças
Sobre as ameaças de morte que Rodrigo Neto estaria recebendo, o titular da Promotoria de Execução Penal e Controle Externo das Atividades Policial Civil e Militar, Bruno César Medeiros Jardini, confirma a informação.
Conforme ele, isso ocorreu em duas ocasiões, via e-mail. As mensagens foram recebidas por seu antecessor, o promotor César Augusto dos Santos. O primeiro e-mail foi recebido no dia 29 de setembro de 2011 e o outro em 7 de fevereiro de 2012.
Ao receber as denúncias, César Augusto instaurou expediente chamado de “notícia de fato”, para melhor apurar o caso. A situação foi repassada para o então comandante do 14º Batalhão, como também ao Delegado Regional de Polícia Civil, João Xingó. A ambos foi solicitado que apurassem o caso.
O promotor conta que assumiu a pasta em outubro passado, revelando que não houve apuração por parte do MP: “Nem todas as informações sobre o caso posso repassar à imprensa neste momento, já que nesta terça-feira (12) vamos discutir  internamente todo esse material”.

Direitos Humanos
Também nesta segunda, por telefone, o jornal VALE DO AÇO ouviu o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia legislativa, Durval Ângelo (PT), que relatou que conhece o repórter há nove anos. Segundo ele, há quatro ou cinco anos Rodrigo Neto chegou a depor na Corregedoria da Polícia Civil a respeito de ameaças que estaria recebendo: “Foi quando denunciou o sindicato do crime que contratou um pistoleiro para matar o Dr. Lemos e me matar, e ele entrevistou o Adriano Pitbull, o pistoleiro. Na chacina de Belo Oriente, ele também recebeu ameaça. Teve uma audiência pública em Ipatinga com Edson Moreira, chefe de investigação da PC no Estado, e as ameaças ficaram patentes”, afirma o deputado.
Recentemente, diz o parlamentar, o repórter queria escrever um livro com o título polêmico ‘Crimes perfeitos’: “Ele até me comunicou há duas ou três semanas e falamos desse fato. Disse que ia relatar os crimes cometidos pelo motoqueiro da moto verde, as chacinas ocorridas no Vale do Aço e que quando tem policial envolvido não se avança na apuração”, declara Durval Ângelo. “Depois da morte até relatei ao chefe de polícia Cylton Brandão que ele estava escrevendo este livro”.
Durval Ângelo adiantou que pretende estar no 12º Departamento de Polícia Civil na próxima terça-feira (19), às 14h, em companhia da Ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário. A repartição funciona na rua Maraquê, no bairro Iguaçu. A ideia é que também esteja representada a Ordem dos Advogados do Brasil em Minas Gerais (OAB-MG). Outros parlamentares deverão acompanhar a visita. O objetivo é pressionar e cobrar agilidade nas investigações sobre o caso, havendo uma reunião com o delegado que está conduzindo as investigações.



Assassinato de Rodrigo Neto
é citado em evento no México

DA REDAÇÃO - Conforme divulgou nesta segunda-feira (11) o repórter Gabriel Manzano, enviado especial do jornal O Estado de S. Paulo à reunião da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) realizada em Puebla, no México, o caso do assassinato do repórter do jornal VALE DO AÇO, Rodrigo Neto, foi citado neste domingo (10) em Relatório sobre a Liberdade de Imprensa no Brasil.
Segundo a matéria, “a impunidade dos que atacam a liberdade de informar é a personagem central do Relatório”, que foi lido pelo representante Paulo de Tarso Nogueira. Delegados de 21 países participam do evento naquele país. "É motivo de grande preocupação a impunidade nos casos de assassinatos, cujo número cresceu nos últimos anos", adverte o texto.
O Relatório foi apresentado à Comissão de Liberdade de Expressão e Informação da SIP. No curto período compreendido pelo documento, que considera fatos desde 1º de outubro de 2012, são relatados 22 casos - dois assassinatos, nove agressões, cinco casos de censura e seis ameaças. A análise brasileira foi preparada pela Associação Nacional dos Jornais (ANJ).
Em suas 11 páginas, o Relatório informa, além da morte do jornalista Rodrigo Neto, do jornal VALE DO AÇO, de Ipatinga, na última sexta-feira, a do radialista Mafaldo Goes, em Jaguaribe (CE), em 22 de fevereiro. No capítulo das ameaças, um dos episódios de destaque foi o aviso anônimo recebido em 18 de dezembro de 2011 pelo jornalista Mauri König, da Gazeta do Povo, de Curitiba. "Informavam que sua casa seria metralhada por policiais militares", após seguidas denúncias que ele fez sobre abusos praticados pela polícia paranaense. Sua família e o jornal também receberam ameaças.


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