TODA A IMPRENSA começou a trabalhar nesta
segunda-feira com uma pulseira preta, simbolizando a unidade pela elucidação do
caso
EXECUÇÃO NO CANAÃ
Janete Araújo
REPÓRTER
Rodrigo Neto enviou e-mails ao Ministério
Público em 29 de setembro de 2011 e 7 de fevereiro de 2012, alegando estar
recebendo ameaças de morte
IPATINGA - As
investigações sobre a morte do repórter policial Rodrigo Neto de Faria, 38
anos, executado com três tiros por dois motoqueiros, na madrugada da última
sexta-feira (08), no bairro Canaã, foram assumidas pelo delegado Emerson Morais,
titular da Delegacia de Homicídios de Belo Horizonte. O policial chegou à
cidade no último sábado (08), chefiando uma equipe formada por três
investigadores, também da capital mineira. Nesta segunda-feira (11), toda a
imprensa do Vale do Aço começou a trabalhar usando uma pulseira preta, também
usada por profissionais de assessorias e mesmo aqueles que no momento não estão
engajados em nenhum órgão. Caso não haja uma resposta quanto ao autor do crime,
até o próximo final de semana, uma manifestação está sendo organizada para a
sua missa de 7º dia, com camisas de protesto elaboradas para a ocasião.
O
delegado Ricardo Cesário, que até então estava à frente do caso, já passou para
o colega belo-horizontino o inquérito da morte de Rodrigo Neto. Algumas pessoas
começaram a ser ouvidas, várias delas profissionais da imprensa. Todo o
processo vem correndo em segredo de justiça. O resultado das investigações
deverá ser reportado a autoridades na capital.
Na
tarde desta segunda-feira (11), a reportagem do jornal VALE DO AÇO tentou
contato com a Superintendência Judiciária da Polícia Civil, em BH, mas a
repartição não quis se pronunciar sobre o assunto, afirmando apenas que o caso
da morte do jornalista foi repassado para a Delegacia de Homicídios de BH e que
nenhuma informação será repassada, pois o caso corre em sigilo.
Denúncias de ameaças
Sobre
as ameaças de morte que Rodrigo Neto estaria recebendo, o titular da Promotoria
de Execução Penal e Controle Externo das Atividades Policial Civil e Militar,
Bruno César Medeiros Jardini, confirma a informação.
Conforme
ele, isso ocorreu em duas ocasiões, via e-mail. As mensagens foram recebidas por
seu antecessor, o promotor César Augusto dos Santos. O primeiro e-mail foi
recebido no dia 29 de setembro de 2011 e o outro em 7 de fevereiro de 2012.
Ao
receber as denúncias, César Augusto instaurou expediente chamado de “notícia de
fato”, para melhor apurar o caso. A situação foi repassada para o então comandante
do 14º Batalhão, como também ao Delegado Regional de Polícia Civil, João Xingó.
A ambos foi solicitado que apurassem o caso.
O
promotor conta que assumiu a pasta em outubro passado, revelando que não houve
apuração por parte do MP: “Nem todas as informações sobre o caso posso repassar
à imprensa neste momento, já que nesta terça-feira (12) vamos discutir internamente todo esse material”.
Direitos
Humanos
Também
nesta segunda, por telefone, o jornal VALE DO AÇO ouviu o presidente da
Comissão de Direitos Humanos da Assembleia legislativa, Durval Ângelo (PT), que
relatou que conhece o repórter há nove anos. Segundo ele, há quatro ou cinco
anos Rodrigo Neto chegou a depor na Corregedoria da Polícia Civil a respeito de
ameaças que estaria recebendo: “Foi quando denunciou o sindicato do crime que
contratou um pistoleiro para matar o Dr. Lemos e me matar, e ele entrevistou o
Adriano Pitbull, o pistoleiro. Na chacina de
Belo Oriente, ele também recebeu ameaça. Teve uma audiência pública em Ipatinga
com Edson Moreira, chefe de investigação da PC no Estado, e as ameaças ficaram
patentes”, afirma o deputado.
Recentemente,
diz o parlamentar, o repórter queria escrever um livro com o título polêmico
‘Crimes perfeitos’: “Ele até me comunicou há duas ou três semanas e falamos
desse fato. Disse que ia relatar os crimes cometidos pelo motoqueiro da moto
verde, as chacinas ocorridas no Vale do Aço e que quando tem policial envolvido
não se avança na apuração”, declara Durval Ângelo. “Depois da morte até relatei
ao chefe de polícia Cylton Brandão que ele estava escrevendo este livro”.
Durval
Ângelo adiantou que pretende estar no 12º Departamento de Polícia Civil
na próxima terça-feira (19), às 14h, em companhia da Ministra de
Direitos Humanos, Maria do Rosário. A repartição funciona na rua Maraquê, no bairro Iguaçu. A ideia é que também esteja representada a
Ordem dos Advogados do Brasil em Minas Gerais (OAB-MG). Outros parlamentares
deverão acompanhar a visita. O objetivo é pressionar e cobrar agilidade nas investigações
sobre o caso, havendo uma reunião com o delegado que está conduzindo as
investigações.
Assassinato de Rodrigo Neto
é citado em evento no México
DA REDAÇÃO - Conforme divulgou nesta
segunda-feira (11) o repórter Gabriel Manzano, enviado especial do jornal O
Estado de S. Paulo à reunião da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) realizada
em Puebla, no México, o caso do assassinato do repórter do jornal VALE DO AÇO,
Rodrigo Neto, foi citado neste domingo (10) em Relatório sobre a Liberdade de
Imprensa no Brasil.
Segundo a matéria, “a impunidade dos que
atacam a liberdade de informar é a personagem central do Relatório”, que foi
lido pelo representante Paulo de Tarso Nogueira. Delegados de 21 países
participam do evento naquele país. "É motivo de grande preocupação a
impunidade nos casos de assassinatos, cujo número cresceu nos últimos
anos", adverte o texto.
O Relatório foi apresentado à Comissão de
Liberdade de Expressão e Informação da SIP. No curto período compreendido pelo
documento, que considera fatos desde 1º de outubro de 2012, são relatados 22
casos - dois assassinatos, nove agressões, cinco casos de censura e seis
ameaças. A análise brasileira foi preparada pela Associação Nacional dos
Jornais (ANJ).
Em suas 11 páginas, o Relatório informa, além
da morte do jornalista Rodrigo Neto, do jornal VALE DO AÇO, de Ipatinga, na
última sexta-feira, a do radialista Mafaldo Goes, em Jaguaribe (CE), em 22 de
fevereiro. No capítulo das ameaças, um dos episódios de destaque foi o aviso anônimo
recebido em 18 de dezembro de 2011 pelo jornalista Mauri König, da Gazeta do
Povo, de Curitiba. "Informavam que sua casa seria metralhada por policiais
militares", após seguidas denúncias que ele fez sobre abusos praticados
pela polícia paranaense. Sua família e o jornal também receberam ameaças.
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