quinta-feira, 11 de novembro de 2010

CHUVA


A chuva cai fina como pequenas gotas de cristais transparentes de cores nacaradas com o reflexo da luz das lâmpadas.
A rua se torna então encharcada e os casais passam apressados, correndo e rindo á toa como se esse fosse um fenômeno engraçado e eles compartilhassem entre si uma alegria secreta.
Mas é bom ver o amor em meio á chuva, molhando, ensopando as roupas que se colam tornando-se reveladoras e os corpos se encontram, se esbarram, os dedos se entrelaçam na sensação de com tais gestos poderão se aquecer do frio da chuva insistente ou torna-la menos desoladora.
Pois a chuva pode ser tudo menos monótona ou vulgar para aqueles que sabem observar os pequenos detalhes que se escondem em si mesmos, mas que por vezes se tornam indiscretos em sua forma de ser e tornam uma simples noite chuvosa na mais deliciosa das experiências. Ou criar um dia de calma preguiça e sonolência quando estamos aquecidos pela maciez de um edredom ou pelo corpo da pessoa amada.
A chuva se torna idílica.
Claro que existem aqueles que sofrem com as conseqüências dessas mesmas gotas d’água. Acontecem problemas, destruição e a desolação advêm porque residem em locais não apropriados.
E ainda há os que não vêem poesia alguma num dia chuvoso quando tudo o que podem fazer é trabalhar ou realizar uma ou outra atividade qualquer que torna extremamente desagradável os pingos que caem; às vezes se tornando torrenciais ou simplesmente caindo e escoando pelos bueiros da cidade.
Como pode a mesma chuva criar no mesmo momento e lugar versões tão diferentes, sensações tão contraditórias: prazer/angústia, dor/alegria, libertação/aprisionamento?
Prisão sim; para aqueles que acham que seus planos e projetos não podem ser levados adiante por culpa da chuva e se prostram em casa olhando a vida pela janela, trancados em seu casulo com a alma em total falta de consolo.
Mas como dizem que depois da chuva nasce o sol e, ai novamente as pequenas nuances reaparecem na terra úmida que permite a planta florescer para o beija-flor vir saborear seu néctar. Nas nuvens brancas e fofas que servem de cenário para o vôo dos pássaros que saem de seus ninhos para secarem com a luz solar suas penas coloridas.
E as ruas passam a exalar todo tipo de cheiro que narizes mais aguçados vão sentir e que irão ou não gostar das lembranças que eles lhes trazem.
Depois da chuva é hora de limpar, organizar, sonhar... pois outras virão, mas só o tempo poderá dizer.

*Janete Araújo é jornalista

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