sexta-feira, 4 de julho de 2008

FIAPO DE GENTE 2


"Um grito de quem foi vítima de abuso e ficou sem defesa."Tudo o que vivi e sofri na minha infância fez de mim o fiapo de gente que sou agora em idade adulta.Me tornei tão estéril e impossibilitada em acalentar e transmitir sentimentos que nem mesmo após tantos anos passados, me sinto capaz ou digna de dar e receber elogios, amor e carinho.Sempre tenho medo das noites escuras com seus pesadelos pois é quando as recordações me trazem de estalo, fragmentos de outras épocas que há tanto tempo luto para esquecer.E quando acordada, nunca me fixo ou reflito sobre aquilo que dizem as crianças, maltrapilhas e maltratadas, perdidas em seu caminhar pelas ruas e becos escuros dessa cidade sem nome e, que me podem trazer significados antigos.
Vozes que me trazem agonia e desespero, que fazem fraquejar minha alma torturada e cambaleante, curvada pelo sofrimento imposto por terceiros e jamais foi curado ou cobrado.Evitar relembrar é evitar as lágrimas, pois no filme de minha vida não pode ser exibido flashback; seria doloroso demais.E depois, conter o pranto lágrimas está ficando cada vez mais difícil, me tornando frágil, pequena e sensível, coisas que não gosto de sentir.E, sem Ter um ombro firme e amoroso para me amparar e consolar, acabarei por ficar com os olhos vermelhos e inchados e o pensamento preso no passado. Sozinha comigo mesma.E isso é o que torna tudo mais triste, pois ao tomar consciência dessa minha patética realidade atual, fico depressiva, me afasto das pessoas e me escondo em meu casulo particular, cruzo os dedos e peço a Deus que me envie logo um anjo que me salve dessa angustia desesperadora, provocada pela mão que me criou e ao mundo me trouxe a luz.Volto então a ser o fiapo de gente.Um pequeno trapo, que se sente indigno e sem valor, que foi criado e modelado pelos pais há muito tempo atrás em sua infância solitária.E choro copiosamente pelos outros fiapos que continuam ainda hoje sendo meras vítimas, tendo suas emoções destroçadas a cada dia, desde o momento que se fazem crianças, sem Ter quem as defenda dos maus tratos constantes, pequenos frutos da violência do pai e conivência da mãe.Que, com o tempo aprendem, como eu aprendi, a conviver silenciosamente com a baixo estima, sentimento de insegurança e menosprezo, emoções que lhe custaram caro para evitar a morte dolorosa e lenta.Fiapos que viverão também eles, pelo resto de suas vidas escondendo as lembranças de infância no fundo de um baú do esquecimento, mas que às vezes no meio da noite é aberto pelo sono, fazendo ressurgir os velhos fantasmas, medos e decepções que a mente teima em recordar, o coração se corta a cada suspiro coberto ainda de sangue e humilhação.É quando me vejo, depois dessa tortura psicológica, voltando no meu passado maldito que se torna novamente presente, tão real que é como se eu tivesse outra vez com cinco, seis, nove anos de idade. Outra vez sem defesa ou argumentos que façam parar tanta dor .Sentindo apenas a culpa pelo não sei o que, já que no fundo de meu ser sei que nada fiz para merecer a vergonha e o medo que de tudo isso me advém...
Sufocando meu grito.
E a solidão que parece nunca Ter fim...

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