quinta-feira, 3 de abril de 2008

FIAPO DE GENTE

"Um grito de quem foi vítima de abuso e ficou sem defesa."

Tudo o que vivi na minha infância fez de mim um fiapo de gente.
Tão estéril em acalentar e transmitir sentimentos que nem mesmo após tantos anos, me sinto capaz ou digna de dar e receber elogios, amor e carinho.
Sempre tenho medo das noites escuras com seus pesadelos, quando as recordações me trazem de estalo fragmentos de outras épocas que tanto luto para esquecer.
E quando acordada, nunca me fixo ou reflito sobre aquilo que dizem as crianças, maltrapilhas e maltratadas, e, que me podem trazer significados antigos.
Pois no filme de minha vida não pode ser exibido flashback.
Seria doloroso demais.
E depois, conter as lágrimas fica tão difícil, me tornando frágil, pequena e sensível, coisas que não gosto de sentir.
E, sem Ter um ombro firme e amoroso para me amparar e consolar, acabarei por ficar com os olhos vermelhos e inchados e o pensamento preso no passado.
Sozinha comigo mesma.
E isso é o que torna tudo mais triste, pois ao tomar consciência dessa minha patética realidade fico depressiva, me afasto das pessoas e me escondo em meu casulo particular, cruzo os dedos e peço a Deus que me envie logo um anjo salvador.
Volto então a ser o fiapo de gente.
Um pequeno trapo, que se sente indigno e sem valor, que foi criado e modelado pelos pais há muito tempo atrás.
E choro copiosamente pelos outros fiapos que continuam ainda hoje sendo meras vítimas, tendo suas emoções destroçadas a cada dia, desde o momento que se fazem crianças, sem Ter quem as defenda dos maus tratos constantes, pequenos frutos da violência do pai e conivência da mãe.
Que com o tempo aprendem, como eu aprendi, a conviver silenciosamente com a baixo estima, sentimento de insegurança e menosprezo.
Fiapos que viverão também eles, pelo resto de suas vidas escondendo as lembranças de infância no fundo de um baú do esquecimento, mas que às vezes no meio da noite é aberto pelo sono, fazendo ressurgir os velhos fantasmas, medos e decepções.
É quando me vejo, depois dessa tortura psicológica, como se tivesse outra vez com cinco, seis, nove anos de idade.
Novamente sem defesa ou argumentos que façam parar a dor.
Sentindo apenas a culpa pelo não sei o que, a vergonha e o medo... E a solidão que parece nunca Ter fim...

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